Neste dia frio, os carros passam esfumaçando seus traseiros quadrados. Quando estou tranquilo, me inquieto, me remexo, olho pra aqui pra lá, quero voar pântanos florestas desertos noites e dias. Mas quando estou assustado, pressionado, inseguro com o mundo de expectativas pelo meu desempenho... ah, nesse momento fico encantado com o rapaz que observa sereno a rua sentado na bancada da lojinha de vassouras e sabão. Admiro o velhinho que roda o bairro cumprimentando as mulheres que lavam as calçadas e que passa a mão na cabeça das crianças. Me absorvo no pedreiro que senta na porta da padaria batendo papo com o jornaleiro. Me desmancho no aroma gostoso que sai da casa de dona Ângela, seus bifes acebolados, seus varais dançarinos...
Mas e as pedras que se estilhaçam no coração? Como dizia o amigo Freud, somos de carne mas temos de viver como se fôssemos de ferro.
Me ajuda, Gil.
E Gil me ajuda:
"Por ser de lá do sertão
Lá do cerrado
Lá do interior, do mato
Da caatinga, do roçado
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado
Por ser de lá
Na certa, por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada
Caminhando a esmo"
("Lamento Sertanejo", letra de Gilberto Gil)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
O Gil deve ter pensado em mim qd escreveu essa letra!
Abrs!
R
Postar um comentário