quarta-feira, 11 de julho de 2007

O Prazo e a Vida

O editor apenas quer tudo. O prazo? Mínimo. No meio do tempo expresso, um repórter. No meio da vida, no meio do mundo, no meio de suas angústias e das angústias da humanidade: um repórter.

Mas o prazo se esvai. Seu desespero é vão. Justo o repórter, que precisa mergulhar nas confissões, ouvir sacerdotal as dores interiores. Sim, sua matéria falará de dor. Ele precisa respeitar o tempo da dor, pois ela acena uma fina serpente de fumaça por muitos séculos antes de revelar sua explosão de fogaréu onde se delineia o verdadeiro rosto do sujeito, o entrevistado.

Como um administrador de empresas, o editor quer a dor a lágrima o riso. Mas não lhe importa qual o trajeto do rio interior. Nem quer saber das pequenas vilas por onde esse rio banhou corpos aflorantes, lavou tristezas e irrigou hortas. Não, o editor quer a água deste rio já engarrafada, tampada, adesivada e boa de se tomar. E ele quer o prazo, o mínimo, o tudo de tão pouco, um pouco de tudo, o rio engarrafado.

No meio do rio, um repórter mergulha seu rosto encharcado de sal. Afunda para que ninguém veja. Seus soluços aquáticos correm mundos debaixo da superfície, carregando seus ecos fluviais até desaguar no mar.

Um comentário:

Rogério Ferro disse...

... and the question is: de quem é a culpa?

A meu ver, estamos caminhando a pssos largos para a confraternização no abismo do mundo. Juntos, editores e repórteres, o salvarão no dia em que o deixarem em paz!

De verdade, ninguém mais precisa da gente!!! (In)feliz constatação.

Que que eu falei! me martelem os dedinhos se eu fôr merecedor. mas sempre ganho eu pelo desabafo em momento oportuno!

Abrs!
R