terça-feira, 10 de julho de 2007

A Brida da Tarde

As duas moças vestiam roupas decotadas e sensuais. A moça negra, rosto anguloso, olhava a paisagem passar pelas janelas do ônibus. A outra, cabelos castanhos claros, absorvida hipnotizada em seu livro aberto. Segurava as páginas levemente, mergulhava, mexia com mãos de seda mais uma página, voltava ao fundo oceano, lia.

Bolsas vistosas pousadas nos colos, ambas sacudiam com as ondulações das ruas. Sentadas nos últimos bancos, justo onde o sacolejar do veículo é mais bruto. A bonita negra tinha olhos mansos e boca grande. A galega sorvia cada passo dos personagens de seu livro. Capa clara, em letras vermelhas escrito: Brida.

Logo após a Ponte Cidade Jardim, antes de entrar na rua do Jockey – que na verdade é a Avenida Lineu de Paula Machado – a moça fechou o livro e olhou para sua amiga. Ainda com as páginas soprando vida, olhou para o lado e suspirou resignada:

- É, minha filha... chegou a hora....

Desceram.

A tarde era quente, as árvores da avenida estavam mais vistosas por causa da luminosidade que pairava no ar e o dia se dobrava para começar a jazer.

Eu posso apostar que, não apenas nos primeiros passos que deu na calçada, mas sobretudo em muitos momentos quando se vê sob um pesado corpo masculino ávido pelo sexo que pagou, ela fica remoendo as luzes do livro que tanto prazer lhe causam no caminho para o trabalho.

Antes que a próxima tarde chegue dentro de um ônibus, a hora é chegada. E é noite no motel.

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