quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Revolucionários

Já enrugadas de tantos anos, as mãos quase centenárias iam desvelando as brancuras que se aqueciam sob os cabelos da menina. Uma pele alva de mocidade refrescante a receber o afago doce daqueles dedos que entravam e saíam por entre os fios longos e perfumados de sabão e âmbar.

Guardada pela boca trancada, o som da melodia antiga. A velhinha embalava a brisa. Leve vento hipnotizado pela candidez da música que mal se ouvia com os ouvidos exteriores.

Era tarde com sol. Há 159 anos atrás. Aquela menina tornou-se também uma senhora, um dia. Fez doces de cidra e doces de alma. O primeiro consolava o paladar, o segundo a esperança. Quando recebeu os 40 e tantos tiros de fuzis, com seus olhos vendados e mãos amarradas para trás, tinha nos lábios o sorriso decano que lembrava uma tarde de afago com sua vó.

Seu último suspiro ensangüentado era doce de lembranças.

Um comentário:

Hercilia Barros disse...

"Fez doces de cidra e doces de alma. O primeiro consolava o paladar, o segundo a esperança."

Ai, que dor...