Já enrugadas de tantos anos, as mãos quase centenárias iam desvelando as brancuras que se aqueciam sob os cabelos da menina. Uma pele alva de mocidade refrescante a receber o afago doce daqueles dedos que entravam e saíam por entre os fios longos e perfumados de sabão e âmbar.
Guardada pela boca trancada, o som da melodia antiga. A velhinha embalava a brisa. Leve vento hipnotizado pela candidez da música que mal se ouvia com os ouvidos exteriores.
Era tarde com sol. Há 159 anos atrás. Aquela menina tornou-se também uma senhora, um dia. Fez doces de cidra e doces de alma. O primeiro consolava o paladar, o segundo a esperança. Quando recebeu os 40 e tantos tiros de fuzis, com seus olhos vendados e mãos amarradas para trás, tinha nos lábios o sorriso decano que lembrava uma tarde de afago com sua vó.
Seu último suspiro ensangüentado era doce de lembranças.
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Um comentário:
"Fez doces de cidra e doces de alma. O primeiro consolava o paladar, o segundo a esperança."
Ai, que dor...
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