A dança de piados tecia a tarde escaldante numa estrada poeirenta do sertão. Apesar do manto tórrido que se estendia pela caatinga, os passarinhos pulavam alegres. Quem vinha na estrada era são Francisco.
Do lado oposto, um almocreve tangia seu burro carregado de mamonas escorrendo sua baba pela base cortada. Silenciosos, saudados pela fileira de avelóis que vez ou outra quase fechavam a estrada perdida, os dois caminhantes foram se aproximando.
São Francisco carregava apenas um bornal murcho e certo brilho no olhar. Quando iam passando um pelo outro, cumprimentaram-se com um aceno: “opa”.
Vendo o tecido malamanhado que pendia esmorecido na cintura do santo, o almocreve então perguntou brejeiro:
- Ô compadre, o que o senhor leva aí nesse bornal meio sem sustância?
O santo, com as mãos livres, estendeu-as ao bornal e apertou o pano mole. Abriu então um sorriso luminoso e respondeu:
- Meu amigo, trago aqui comigo apenas a alegria. A alegria perfeita. Quer um pouco?
O almocreve riu e passou sem mais nada falar mas gostando da gentileza daquele dizer. Estranhamente, no entanto, notou algo diferente no prosseguir do caminho. Percebeu que o dia estava ensolarado, mas não tanto quanto seu coração.
Piavam como pífanos de uma estripulia sinfônica os pássaros, enchendo a tarde de manhã.
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