Como dizia meu amigo Riobaldo Tatarana, se eu fosse vender minha alma, venderia muita gente junto.
Não há uma só linha de escritos, uma só seqüência de roteiro, um só verso que não esteja impregnado das pessoas que transpassaram minha alma com suas vidas. A ponto de eu ser apenas um representante que materializa a confluência de muitos gestos, muitas intenções, muitas insinuações.
Se eu tiver um mínimo que seja de sensibilidade para escrever algo sobre o amor, por exemplo, se é que tenho alguma, eu a adquiri das muitas garotas que até mesmo sem saber incharam as horas límpidas que as imaginei junto a mim. Creio que para qualquer tipo de sensibilidade que tenha, as que responderam “não...” contribuíram talvez até mais do que as poucas que disseram “sim!”, embora uma ou outras destas últimas tenham marcado completamente minhas estradas silenciosas.
Professores, pai, a mãe daquela conversa madrugada adentro que clareou o rumo de minha vocação e me deu coragem de mudar, amigos e as pedras no sapato (tantas) que fizeram as tardes mais tristes e o coração mais atento. E os atrasos (obrigado, pai) na escola, benditos atrasos, por causa deles (e das regras rígidas que o diretor decretava) eu tinha que ficar de fora de toda a primeira aula e esperar a segunda começar, cinqüenta minutos depois. Benditos atrasos que me possibilitaram vasculhar todos os dias (é... eu era realmente o atrasildo da classe) os livros da biblioteca amanhecida com a pele clara e receptiva ao meu toque tão carente. Quantos livros, desde os contos de Herman Hesse até as fotos do grande livro de letras das músicas do Tom Jobim. Ler e escrever, todo dia, todo o atraso, castigo que me deu asas.
Na outra escola, mais desumana e mercadológica, já não me deixavam sequer esperar a segunda aula dentro da escola. Então, em meio às manhãs enevoadas e úmidas de Santo André, eu andava pelas ruas do Centro calado, Centro estremunhado, abrindo seus olhos de fachada devagarzinho, com ruído e ferrugem. Graças, porque a cada passo nas vagarosas manhãs antes que batesse o horário da segunda aula, eu dedilhava angústias, esperanças, sonhos, despertares verdadeiros, dos quais sou resultado grato. Cada ranhura e pedaço que despedaçavam me tornaram mais imperfeito, mais completo (com licença, Barão Vermelho), mais pinel, ou seja, mais vulnerável a fazer merda tanto quanto a cumprir minha pequena parte na luz desse mundo.
Obrigado, professora Márcia, louca tanta santa, nas peças e loucuras que rachavam minúsculas crateras de cor pelas paredes grossas da educação rígida, escola. Obrigado irmãzinha, pelos túneis de sofá que formávamos fugindo da móca monstra chorando pela casa. Obrigado, pai, pelos perfumes de circo que escapuliam de sua rigidez artística. Obrigado, pai, pelos apoios incontinentes de me salvar da perdição que tem nos salvado, paradoxo de nossa condição (pra que fugir?). Obrigado Carrascoza, Mayra, Calazans, Sevcenko, Adriana, Vitor, pelos exercícios de narrativa sensível das revoluções internas e externas que tentamos compor nos papéis e telas desenfreados. Obrigado amigos (tantos que fica até difícil escolher este ou aquele para representar), obrigado pelos preciosos estímulos à vida e à morte superior.
Cada linha, cada traço, cada som, cada tentativa são veias, peles, olhares seus que estão se manifestando, instaurando-se novos como a brisa mais antiga. Até no que não gosto e faço testando os limites dos editores, minha impertinência pertinente (como são todas, sempre, de todos) são pedacinhos que trago de vocês até aqui fora, com birra de pantim.
Parece até uma injustiça ser elogiado ou criticado sozinho. Sintam-se como são: eu.
Não há uma só linha de escritos, uma só seqüência de roteiro, um só verso que não esteja impregnado das pessoas que transpassaram minha alma com suas vidas. A ponto de eu ser apenas um representante que materializa a confluência de muitos gestos, muitas intenções, muitas insinuações.
Se eu tiver um mínimo que seja de sensibilidade para escrever algo sobre o amor, por exemplo, se é que tenho alguma, eu a adquiri das muitas garotas que até mesmo sem saber incharam as horas límpidas que as imaginei junto a mim. Creio que para qualquer tipo de sensibilidade que tenha, as que responderam “não...” contribuíram talvez até mais do que as poucas que disseram “sim!”, embora uma ou outras destas últimas tenham marcado completamente minhas estradas silenciosas.
Professores, pai, a mãe daquela conversa madrugada adentro que clareou o rumo de minha vocação e me deu coragem de mudar, amigos e as pedras no sapato (tantas) que fizeram as tardes mais tristes e o coração mais atento. E os atrasos (obrigado, pai) na escola, benditos atrasos, por causa deles (e das regras rígidas que o diretor decretava) eu tinha que ficar de fora de toda a primeira aula e esperar a segunda começar, cinqüenta minutos depois. Benditos atrasos que me possibilitaram vasculhar todos os dias (é... eu era realmente o atrasildo da classe) os livros da biblioteca amanhecida com a pele clara e receptiva ao meu toque tão carente. Quantos livros, desde os contos de Herman Hesse até as fotos do grande livro de letras das músicas do Tom Jobim. Ler e escrever, todo dia, todo o atraso, castigo que me deu asas.
Na outra escola, mais desumana e mercadológica, já não me deixavam sequer esperar a segunda aula dentro da escola. Então, em meio às manhãs enevoadas e úmidas de Santo André, eu andava pelas ruas do Centro calado, Centro estremunhado, abrindo seus olhos de fachada devagarzinho, com ruído e ferrugem. Graças, porque a cada passo nas vagarosas manhãs antes que batesse o horário da segunda aula, eu dedilhava angústias, esperanças, sonhos, despertares verdadeiros, dos quais sou resultado grato. Cada ranhura e pedaço que despedaçavam me tornaram mais imperfeito, mais completo (com licença, Barão Vermelho), mais pinel, ou seja, mais vulnerável a fazer merda tanto quanto a cumprir minha pequena parte na luz desse mundo.
Obrigado, professora Márcia, louca tanta santa, nas peças e loucuras que rachavam minúsculas crateras de cor pelas paredes grossas da educação rígida, escola. Obrigado irmãzinha, pelos túneis de sofá que formávamos fugindo da móca monstra chorando pela casa. Obrigado, pai, pelos perfumes de circo que escapuliam de sua rigidez artística. Obrigado, pai, pelos apoios incontinentes de me salvar da perdição que tem nos salvado, paradoxo de nossa condição (pra que fugir?). Obrigado Carrascoza, Mayra, Calazans, Sevcenko, Adriana, Vitor, pelos exercícios de narrativa sensível das revoluções internas e externas que tentamos compor nos papéis e telas desenfreados. Obrigado amigos (tantos que fica até difícil escolher este ou aquele para representar), obrigado pelos preciosos estímulos à vida e à morte superior.
Cada linha, cada traço, cada som, cada tentativa são veias, peles, olhares seus que estão se manifestando, instaurando-se novos como a brisa mais antiga. Até no que não gosto e faço testando os limites dos editores, minha impertinência pertinente (como são todas, sempre, de todos) são pedacinhos que trago de vocês até aqui fora, com birra de pantim.
Parece até uma injustiça ser elogiado ou criticado sozinho. Sintam-se como são: eu.