A história da humanidade passa não apenas pelos grandes acontecimentos gerais. Nem apenas pelas figuras de liderança amplamente conhecidas. A história humana – e me permita Ferreira Gullar – passa pela vida nos quintais, quartos, ruas, pelos encontros dos pequenos grupos, pelas conversas de calçada, pelas esperanças sentadas nas praças.
Do mesmo modo, pensando do ponto de vista da superação do capitalismo, a história da classe trabalhadora não se dá somente nos momentos decisivos e explicitamente revolucionários. Não se dá apenas nas grandes campanhas populares, nos protestos em massa ou na guerra política. A história da classe se dá também nas tardes silenciosas de estudos, na roda de música em volta do bar, nas relações diárias dos empreendimentos cooperativos, nos experimentos sociais, nas práticas alternativas de comunicação, cultura, saúde, relações com o meio ambiente.
Sem dúvida que as esferas explicitamente revolucionárias e as vivências locais se alimentam mutuamente quanto ao potencial que ambas precisam para se realizarem na sua radicalidade. Nem a revolução totalizante pode prescindir da sua correspondência nas experiências sociais mais locais e nem as experiências locais podem se realizar plenamente sem que a sociedade capitalista tenha sido aniquilada.
Talvez tenha sido essa visão de correspondência mútua entre as esferas amplas e mínimas que Ágnes Heller quis relacionar ao desenvolver a concepção de portadores de necessidades radicais. Necessidades que começam já no próprio seio do capitalismo, mas que precisam de sua superação totalizante a fim de se realizarem.
sábado, 4 de outubro de 2008
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