Prazos, prazos, prazos! Quisera pagassem tanto quanto são curtos os prazos. E jornalista vai no psicanalista, vai no Instituto do Sono, vai no gastro, vai pra puta que pariu.
Prazo é que nem cú: é melhor saindo do que entrando.
Prazo é que nem cú: mesmo depois de sair, deixa rastro de merda.
Prazo é que nem cú: se forçar sangra.
Prazo é que nem cú.
Editores, vão tudo tomar no prazo! (seus féla da puta)
segunda-feira, 14 de abril de 2008
domingo, 13 de abril de 2008
Caja Negra
Não sou muito de assistir televisão. Zapear é algo raríssimo para mim. Mas vez ou outra me pego incapaz de trocar de canal. Uma das últimas ocasiões em que isso aconteceu foi ao ver o filme “O Iceberg”. Mais do que tudo, a atmosfera do filme foi absolutamente encantadora, estranhamente encantadora. Como uma constante tarde garoenta de outono na praia, o filme segue quase sem diálogos, em sua comédia ousada de gestos e absurdos tão delicados que se contraria a regra de ouro da comédia: rir com certa maldade nos lábios, certo sarcasmo irresistível. Não, em “O Iceberg”, o amor e as buscas humanas de reconciliação e desejo fluem como folhas cristalizadas de gelo num lago transparente. Fluem frias, gélidas... e lindas, brilhantes como somente um cristal de gelo pode ser.
Mas o que me move agora é o sentimento de outro filme, também quase sem diálogos (seria essa uma condição propícia para a criação de atmosferas cheias de alma e, portanto, silenciosas?). “Caja Negra” foi um soco de trovão feito de pétalas opacas. Uma beleza tão estranha e doce que a feiura torna-se a expressão do sublime.
A história tece pequenos remendos cotidianos de uma jovem convivendo e costurando pedaços até então separados das histórias de sua velha avó e seu esquálido pai reencontrado - que vive como pedinte nas ruas e dorme numa casa do Exército da Salvação. Ainda há um vizinho, velho marceneiro.
Feito meio em ficção e meio em documentário, o diretor argentino Luis Ortega usou apenas uma atriz profissional, a jovem “protagonista”. Os demais foram pessoas que, sob as lentes das câmeras – e com as lufadas de novas realidades que a presença de uma câmera sopra sobre a vida dos filmados – desfiaram os gestos viscerais de suas existências idosas. Os corpos, repletos da comunicação que as fragilidades dos corpos velhos possibilitam, irradiam luzes paralelas, sombras de uma transcendência calcada nas misérias do corpo em decadência. Corpo, corpo, corpo. E o mais.
Silêncio, palavras contundentes, sabedorias, dores e carinhos. Na mais íntima expressão das rugas, as câmeras encontraram o choro e o riso verdadeiros que estavam escondidos do cinema. Foi na vida que essas expressões de alma estavam guardadas, contidas, amaciadas. E foi na vida que o filme de Luis Ortega deitou seu olhar documental. A ficção ascendeu a realidade. Lá no alto, a realidade se banhou com gotas de sereno e manchou a tela opaca de “Caja Negra”. Os personagens, molhados de eternidade, não me deixaram dar risada, nem mesmo chorar, mas sim, um sorriso fez-se brando, tão brando, leve e infinitesimal, que só pude pairar tempos e tempos estanque diante da tela que corria os letreiros finais. O movimento era o estar. O ser.
Mas o que me move agora é o sentimento de outro filme, também quase sem diálogos (seria essa uma condição propícia para a criação de atmosferas cheias de alma e, portanto, silenciosas?). “Caja Negra” foi um soco de trovão feito de pétalas opacas. Uma beleza tão estranha e doce que a feiura torna-se a expressão do sublime.
A história tece pequenos remendos cotidianos de uma jovem convivendo e costurando pedaços até então separados das histórias de sua velha avó e seu esquálido pai reencontrado - que vive como pedinte nas ruas e dorme numa casa do Exército da Salvação. Ainda há um vizinho, velho marceneiro.
Feito meio em ficção e meio em documentário, o diretor argentino Luis Ortega usou apenas uma atriz profissional, a jovem “protagonista”. Os demais foram pessoas que, sob as lentes das câmeras – e com as lufadas de novas realidades que a presença de uma câmera sopra sobre a vida dos filmados – desfiaram os gestos viscerais de suas existências idosas. Os corpos, repletos da comunicação que as fragilidades dos corpos velhos possibilitam, irradiam luzes paralelas, sombras de uma transcendência calcada nas misérias do corpo em decadência. Corpo, corpo, corpo. E o mais.
Silêncio, palavras contundentes, sabedorias, dores e carinhos. Na mais íntima expressão das rugas, as câmeras encontraram o choro e o riso verdadeiros que estavam escondidos do cinema. Foi na vida que essas expressões de alma estavam guardadas, contidas, amaciadas. E foi na vida que o filme de Luis Ortega deitou seu olhar documental. A ficção ascendeu a realidade. Lá no alto, a realidade se banhou com gotas de sereno e manchou a tela opaca de “Caja Negra”. Os personagens, molhados de eternidade, não me deixaram dar risada, nem mesmo chorar, mas sim, um sorriso fez-se brando, tão brando, leve e infinitesimal, que só pude pairar tempos e tempos estanque diante da tela que corria os letreiros finais. O movimento era o estar. O ser.
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